quarta-feira, 28 de novembro de 2012

E-mail racional


Para a palavra racional encontrei alguns significados, por exemplo, alguém capaz de usar a razão, de raciocinar. O homem é animal racional. Também localizei que se refere a alguém capaz de se basear na razão, no raciocínio lógico; e não na emoção. A questão matemática, para este caso, ficou de lado. Ela não explica o envolvimento que o caso gerou.
Tenho desenvolvido pessoas para comunicação e, de fato, é preciso isentar-se da emoção para escrever e-mails. Esse tipo de comunicação tem impactado a vida de muitos profissionais e de muitas empresas. Trata-se de documento que permanece arquivado no servidor por dois anos, no mínimo. Por esse motivo, deve ser pensado, antes de acionar o dedo indicador com a velocidade com que tenho visto acontecer.
O pior cenário é aquele, em que o cidadão se arrepende de ter enviado uma mensagem e, imediatamente, envia outra para desconsiderar a anterior. Se havia alguma chance de não ser lida; agora, vai ser prioridade para quem recebeu. Dessa forma, torna-se inútil a tentativa de anular o texto àqueles desesperados por terem enviado comunicação com erro ou à pessoa errada.
São quatro situações impossíveis de retomar: a flecha lançada, a palavra dita, a oportunidade perdida e o enviar/receber do e-mail. É preciso enfrentar o fato de que o e-mail enviado pode adquirir projeção geométrica e geográfica de tal forma que não se tem mais controle sobre ele. Diante desse cenário, pensar muito antes de escrever é aconselhável.
Hoje, é muito mais comum a pessoa escrever um e-mail, pela facilidade com que essa ferramenta atinge a todos, do que fazer uma interação telefônica, para tratar assunto mais cotidianos, sem necessidade de registro. E assim, tenho visto emissão de documentos, com muitos erros e com consequências nefastas para o indivíduo e para o coletivo.
Qualquer dia, eu vou me dedicar a enumerar muitos fatos ligados ao tema. Mas, houve uma narrativa que chamou minha atenção, em um último curso sobre Comunicação oral e escrita, junto a profissionais de empresa de grande porte.
Os participantes pertenciam ao setor administrativo. Em meio ao grupo, havia Advogados, Administradores, Assistentes, Psicólogos, profissionais da logística, enfim, tratava-se de equipe seleta. Assim que concluímos a primeira parte do curso, saímos para almoçar. Nesses momentos mais informais, as pessoas aproveitam para comentar algo diferente.
Pude sentar-me ao lado de dois rapazes simpáticos. Percebia-se que eles tinham verdadeira sede do saber e que estavam incomodados diante das reflexões causadas na primeira parte do curso. Um deles, mais falante e bastante interessado contou-me que havia recebido um e-mail em que o líder do setor dele solicitava para escreverem e-mails mais racionais.
Ao receber aquela mensagem, de calmo tornou-se inquieto. Passou a pensar nos significados que o líder queria imprimir àquela mensagem. O primeiro pensamento, tomado pela emoção, foi que ser racional era diferente de irracional. Logo, se ele era homem, portanto não havia o que questionar. Mas, teria o líder insinuado que ele era irracional? Bicho?
Quando a inquietação toma a vida do homem, surge um “X”, em sua mente,             eu permanece até que ele o decifre ou o devore. Assim foi naquele dia. O que pensar? O que o líder pensava dele? Havia cometido algum engano? Por que o texto não indicava algo concreto?
As dúvidas dormiram com ele; mas, no dia seguinte, precisa esclarecer. Telefonou para o líder e solicitou uma reunião. Imprimiu o texto e levou-o para conversarem sobre o assunto.
O líder, sem sequer imaginar o que o texto havia causado, perguntou a ele:
- Como está? Tudo bem? O que houve?
- Bem, comigo, está tudo bem? E com o senhor? – perguntou o rapaz.
- Estou bem, um pouco cansado, com alguns problemas familiares – comentou o líder, com a tranquilidade de quem se sentia bem, junto ao colega de trabalho.
- Deu para perceber – retrucou o rapaz.
- Como assim? Está visível? – Perguntou o líder.
- Não, Senhor, está legível. – informou o colega.
- Pode me explicar? Legível? Como assim?
- É que o Senhor me chamou de bicho, ontem, no e-mail. - informou
- Eu não escrevi isso. Deixe-me ver na minha caixa de saída de e-mails de ontem. – falou o líder.
- Não precisa, está aqui, impresso, em minhas mãos. O Senhor pediu para ser mais racional, em meus e-mails. Se sou homem, logo sou racional. Não sou bicho.
- Nossa! Foi assim que você entendeu minha mensagem? Não pensava que pudesse ser assim.
- Então, sei que o Senhor tem problemas. Eu também tenho. Mas acho bom pensar antes de escrever. Eu imprimi o texto e vou guardar. Eu respeito o Senhor, e quero respeito para mim também.
É a situação não ficou resolvida, mesmo com aquele momento de reunião entre os dois. O assunto continuava a permear a mente daquele profissional que participou do meu curso. Há momentos na vida do homem que são muito marcantes e que permanecem, acrescidos de outras situações, em que não houve boa comunicação. Diga-se, de passagem, que a falha na comunicação quebra relacionamentos.
Comunicar é, antes de tudo, um ato de solidariedade. Pense bem. A palavra só pertence a você até o momento da emissão. A partir do recebimento do texto, o interlocutor vai atribuir significados a ele. É muito opotuno poder evitar a famosa frase: “Não foi isso que eu quis dizer.”.

Um comentário:

  1. As palavras tem um poder impressionante e podem ter várias interpretações. Devíamos pensar e depois falar, mas quase sempre fazemos o contrário.

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