Para a palavra racional encontrei
alguns significados, por exemplo, alguém capaz de usar a razão, de raciocinar.
O homem é animal racional. Também localizei que se refere a alguém capaz de se
basear na razão, no raciocínio lógico; e não na emoção. A questão matemática,
para este caso, ficou de lado. Ela não explica o envolvimento que o caso gerou.
Tenho desenvolvido pessoas para
comunicação e, de fato, é preciso isentar-se da emoção para escrever e-mails.
Esse tipo de comunicação tem impactado a vida de muitos profissionais e de
muitas empresas. Trata-se de documento que permanece arquivado no servidor por
dois anos, no mínimo. Por esse motivo, deve ser pensado, antes de acionar o
dedo indicador com a velocidade com que tenho visto acontecer.
O pior cenário é aquele, em que o
cidadão se arrepende de ter enviado uma mensagem e, imediatamente, envia outra
para desconsiderar a anterior. Se havia alguma chance de não ser lida; agora,
vai ser prioridade para quem recebeu. Dessa forma, torna-se inútil a tentativa de
anular o texto àqueles desesperados por terem enviado comunicação com erro ou à
pessoa errada.
São quatro situações impossíveis
de retomar: a flecha lançada, a palavra dita, a oportunidade perdida e o
enviar/receber do e-mail. É preciso enfrentar o fato de que o e-mail enviado
pode adquirir projeção geométrica e geográfica de tal forma que não se tem mais
controle sobre ele. Diante desse cenário, pensar muito antes de escrever é
aconselhável.
Hoje, é muito mais comum a pessoa
escrever um e-mail, pela facilidade com que essa ferramenta atinge a todos, do
que fazer uma interação telefônica, para tratar assunto mais cotidianos, sem
necessidade de registro. E assim, tenho visto emissão de documentos, com muitos
erros e com consequências nefastas para o indivíduo e para o coletivo.
Qualquer dia, eu vou me dedicar a
enumerar muitos fatos ligados ao tema. Mas, houve uma narrativa que chamou
minha atenção, em um último curso sobre Comunicação oral e escrita, junto a
profissionais de empresa de grande porte.
Os participantes pertenciam ao
setor administrativo. Em meio ao grupo, havia Advogados, Administradores,
Assistentes, Psicólogos, profissionais da logística, enfim, tratava-se de
equipe seleta. Assim que concluímos a primeira parte do curso, saímos para
almoçar. Nesses momentos mais informais, as pessoas aproveitam para comentar
algo diferente.
Pude sentar-me ao lado de dois
rapazes simpáticos. Percebia-se que eles tinham verdadeira sede do saber e que
estavam incomodados diante das reflexões causadas na primeira parte do curso.
Um deles, mais falante e bastante interessado contou-me que havia recebido um
e-mail em que o líder do setor dele solicitava para escreverem e-mails mais
racionais.
Ao receber aquela mensagem, de
calmo tornou-se inquieto. Passou a pensar nos significados que o líder queria
imprimir àquela mensagem. O primeiro pensamento, tomado pela emoção, foi que
ser racional era diferente de irracional. Logo, se ele era homem, portanto não
havia o que questionar. Mas, teria o líder insinuado que ele era irracional?
Bicho?
Quando a inquietação toma a vida
do homem, surge um “X”, em sua mente, eu
permanece até que ele o decifre ou o devore. Assim foi naquele dia. O que
pensar? O que o líder pensava dele? Havia cometido algum engano? Por que o
texto não indicava algo concreto?
As dúvidas dormiram com ele; mas,
no dia seguinte, precisa esclarecer. Telefonou para o líder e solicitou uma
reunião. Imprimiu o texto e levou-o para conversarem sobre o assunto.
O líder, sem sequer imaginar o
que o texto havia causado, perguntou a ele:
- Como está? Tudo bem? O que
houve?
- Bem, comigo, está tudo bem? E
com o senhor? – perguntou o rapaz.
- Estou bem, um pouco cansado,
com alguns problemas familiares – comentou o líder, com a tranquilidade de quem
se sentia bem, junto ao colega de trabalho.
- Deu para perceber – retrucou o
rapaz.
- Como assim? Está visível? –
Perguntou o líder.
- Não, Senhor, está legível. –
informou o colega.
- Pode me explicar? Legível? Como
assim?
- É que o Senhor me chamou de bicho,
ontem, no e-mail. - informou
- Eu não escrevi isso. Deixe-me
ver na minha caixa de saída de e-mails de ontem. – falou o líder.
- Não precisa, está aqui,
impresso, em minhas mãos. O Senhor pediu para ser mais racional, em meus
e-mails. Se sou homem, logo sou racional. Não sou bicho.
- Nossa! Foi assim que você
entendeu minha mensagem? Não pensava que pudesse ser assim.
- Então, sei que o Senhor tem
problemas. Eu também tenho. Mas acho bom pensar antes de escrever. Eu imprimi o
texto e vou guardar. Eu respeito o Senhor, e quero respeito para mim também.
É a situação não ficou resolvida,
mesmo com aquele momento de reunião entre os dois. O assunto continuava a
permear a mente daquele profissional que participou do meu curso. Há momentos
na vida do homem que são muito marcantes e que permanecem, acrescidos de outras
situações, em que não houve boa comunicação. Diga-se, de passagem, que a falha
na comunicação quebra relacionamentos.
Comunicar é, antes de tudo, um
ato de solidariedade. Pense bem. A palavra só pertence a você até o momento da
emissão. A partir do recebimento do texto, o interlocutor vai atribuir
significados a ele. É muito opotuno poder evitar a famosa frase: “Não foi isso
que eu quis dizer.”.
As palavras tem um poder impressionante e podem ter várias interpretações. Devíamos pensar e depois falar, mas quase sempre fazemos o contrário.
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